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JOSÉ TINET

( Brasil – Paraíba ) 

 

PINTO, Yvone de Figueiredo Ferreira.   Paraibanos ilustres.    São Paulo, SP: Bok2 Edições, 2020.   410 p.   14 x 21 cm. 
ISBN 978-85-923219-2-5         Gentileza do Rev. Hakusan Kogen

 

             Solitário

Eu te encontrei um dia pela estrada
Do infortúnio e faminta me pediste.
Disse-te então: Não tenho quase nada...
Tenho somente um rancho e muito triste.

E nesse instante nos meus olhos viste
A boa luz de uma alma abnegada.
Pela primeira vez, então sorriste
Dentro de uma tapera esburacada,

Mas logo quando a aurora de outra vida
Encheu de luz o teu viver nevoento,
De mim fugiste.  E agora arrependida,

Voltas de novo pobre...  Enfim tem calma...
Meu rancho se acabou... Mas ao relento
Ainda terás a sombra da minh´alma.



Despedida

Se em dizer que vou ficar ausente,
Quando os meus olhos lanço sobre o mar.
Tu choras tanto e tão pungentemente
Como se eu fosse para não voltar.

Só em fitar as bandas do Poente,
Que entre soluços tentas me abraçar,
Vejo a noite do adeus vir de repente
Na escuridão do teu profundo olhar.

Imaginemos quando chegue o instante
De súplicas, de prantos, de embaraços
Em que eu te diga "Adeus", preciosa amante!...

Que fazer ao te ver branca, sem vida?
— É levar no transporte dos meus braços
O cadáver da própria despedida.



Luz e Treva
      

Passei... E o teu olhar rápido e altivo
Fitou-me cima a baixo e com censura.
Talvez porque de mágoas é que vivo
Quando só vives tonta de ventura

Como queiras olhar-me, não te privo,
Que o olhar é franco, é livre, olha e procura
Saber também porque me traz cativo
Esta existência cheia de amargura.

Mas tu não sabes ver.  Se olhas com calma,
Verás mais luz nas sombras de minhalma
Que em teu corpo apodrece sob a terra.

 

                                                 Fevereiro - 1947

      

                                  [ Revista Manaira ]

***

A Muda
                                              Son regar refletait
La charté de son âme
Victor Hugo


Quando Olivia morreu brilhava um sol
Que a um grande plenilúnio antecedia
Mas, nem se ouvia ao longe a cotovia
Nem mesmo ao longe a voz do rouxinol.

Como a folha em silêncio desfolhada,
Assim morreu magoada, muda e calma.
Mas, na porta celeste, iluminada
Já estava Deus à espera da sua alma.

Nunca ferira um nome os lábios seus,
Um lamento, um murmúrio de tristeza.
Se pudera falar, juro por Deus,
Fôra para encantar a natureza.

Pois, só o Amor falava nos seus olhos,
A bondade floria em seu sorriso.
O sorriso era luz entre os escolhos,
E o olhar, luz que avistava o Paraíso.

Morreu como viveu sem um alarde;
Morreu só como sempre os pobrezinhos.
Nem os sinos tocaram pela tarde,
Nem as aves cantaram pelos ninhos.

Mas, quando anoiteceu, ante o infortúnio
De ter perdido a terra alma tão boa,
Banhava a terra a luz de um plenilúnio,
Como o beijo que esquece e que perdoa.

Era Olivia perdoando aos que a magoaram
— Os impiedosos, pérfidos, mesquinhos.
E nessa noite as aves despertaram,
Todas cantando à margem dos seus ninhos.

               

 

*

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Página publicada em novembro de 2022


 


 

 

 
 
 
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